Lucas Botássio
“Essa com certeza foi minha melhor experiência dentro de Schoenstatt”; “na verdade, pra mim, essa foi a melhor semana da minha vida.”
Foram frases que Andrés e Emilio, dois bons amigos mexicanos, me disseram num encontro improvisado em um barzinho de Roma, ao fim do jubileu de jovens e da experiência do IGNIS 2025. Nos reencontramos por acaso ao lado da Piazza Navona, eles celebrando o fim de uma grande viagem, e eu caminhando sem rumo, tentando digerir algo da loucura que acabávamos de viver e, de certa forma, ajudado a construir.
O que nos unia era apenas a amizade construída no último mês, quando haviam sido voluntários no IGNIS, e o bendito identificador de restaurantes que aceitavam os vouchers de comida do jubileu. “Lucas!”, gritaram ao me ver passar, e me convidaram para um bom jantar de despedida da Cidade Eterna, com o ímpeto de gastar os vouchers restantes antes do fim do jubileu e partilhar o assombro pelas grandes coisas que Deus tinha feito por meio do IGNIS e daqueles dias em Roma.
Tive o privilégio imerecido de escutar essa linda partilha, com a qual começo este relato, fazendo com que qualquer responsável se sinta minimamente lisonjeado por ter dado seu grão de areia para torná-la possível. Não pude conter o arrepio na pele, e ainda hoje não contenho a emoção. Aquilo que vinha sonhando junto aos meus irmãos do Colégio Mayor há quase um ano não só tinha se cumprido, mas tinha sido muito maior do que jamais poderíamos imaginar quando aceitamos abraçar essa loucura.
“Se tudo der certo, isso só pode ser de Deus”, dizia um irmão de curso. E foi.
Igualmente privilegiado fui ao ser convidado para coordenar esse projeto — algo que só posso dizer agora, com o alívio de já tê-lo concluído. Quando o pe. Jaime, reitor do Colégio Mayor, me propôs o convite, lembrei-me rapidamente da experiência do último IGNIS, em 2023, quando também ajudei na organização do encontro em Lisboa como membro da comissão central. “Nunca mais”, tinha me prometido depois de ter me fartado de trabalhar para o encontro às margens do mar da Gafanha.
E apenas um ano depois, lá estava eu, andando pela rua Vicente Valdés a caminho da faculdade, pensando seriamente na possibilidade de assumir essa nova loucura. Senti o coração arder com um entusiasmo que não esperava ter, como se fosse um incentivo da graça que me impulsava a dar uma resposta que comprometeria o próximo ano inteiro da minha formação. Aí percebi que mais que um encontro, o IGNIS é o fogo que Deus quer acender no coração de cada um que for tocado por Ele e por sua esperança. Aceitei.
Logo se juntaram ao time outros 17 irmãos de 8 países, todos do Colégio Mayor, com tamanha incondicionalidade e generosidade que fizeram com que o lema “nada sem nós” fosse levado ao limite do possível: Bernardo Rocha e Melo (PT), Rodrigo Fernández (MX), Gustavo Ceccon (BR), Agustin Eichenberger (AR), Ramón Santoyo (MX), Manuel Lorca (CH), Álvaro del Santo (ES), Francisco Ferreccio (AR), Davi Vilarinho (BR), Héctor Islas (MX), Pablo Gutierrez (ES), Ramón Vergara (PY), Joaquín Peña (CH), Ricardo Ilhe (BR), Gergely Palásthy (HU), Álvaro José (AR), Juan Cruz (AR), além da assessoria do nosso irmão e formador, Padre Facundo Barnabei, e da ajuda de muitos outros irmãos do Colégio Mayor que apoiaram os preparativos à distância.
Se pudesse resumir em três pontos o mais importante desta experiência de quase um ano de preparação para o encontro, diria:
- Trabalho em equipe
Realmente senti que foi um projeto promovido e acompanhado por diferentes instâncias da comunidade dos Padres de Schoenstatt, à qual pertenço: Direção geral, superiores, formadores do seminário, seminaristas e assessores – e, claro, pela juventude. O trabalho em equipe durante todo o processo, e a confiança nos jovens delegados dos países e voluntários que se integraram ao final, foi essencial.
Também foi muito importante a estratégia de “camisetear” todo mundo: assessores, voluntários, delegados e a própria equipe de seminaristas do Colegio Mayor. Isso ajudou muito a criar um sentido de identificação e responsabilidade com o projeto, fazendo com que a experiência fosse realmente de todos — e não apenas um encontro preparado por seminaristas para ser vivido pelos outros, como podia ter acontecido.
Essa bonita vivência de trabalho em equipe não só nos ajudou a crescer em autoconhecimento, em aprender a somar-se ao projeto do outro e somar o outro ao meu projeto, em aprender a construir algo do zero em equipe, a acompanhar, saber soltar e confiar. Mostrou que, ainda que desafiador e imperfeito, é sempre o melhor caminho a se investir e nos dá viva esperança para o futuro.
- Preocupação pela experiência real dos rapazes
Desde o início, refletimos sobre os valores que queríamos transmitir com a vivência do encontro, na preocupação de como cada jovem se sentiria e viveria o encontro e sua preparação em cada uma de suas etapas e que experimentasse o carinho através dos detalhes pessoais (como ter o nome já gravado na credencial que receberam).
Dessa inquietação, nasceram iniciativas como: Ter equipamentos de tradução simultânea (pela primeira vez num IGNIS); Música e técnica de qualidade (o CMJK lançou um EP no Spotify em preparação ao encontro — vale a pena conferir); Materiais de identidade visual atuais e de boa qualidade; Peregrinas com uma pequena relíquia da antiga estrutura de madeira do altar do Santuário Original — feitas à mão pelos seminaristas, voluntários e até pelo reitor do Santuário, pe. Ignacio, que ficou até às 3h da manhã na véspera da inauguração para nos ajudar a terminar esse grande presente; Alojamentos próximos ao santuário original e comida de qualidade; Sala de descanso para assessores com cafezinho disponível… Detalhes pessoais que queriam expressar preocupação e amor pela juventude e que ajudaram a preparar terreno fértil para uma experiencia fecunda para todos.
- “Nada sem Vós”
Seria ingênuo atribuir o resultado de um encontro religioso apenas ao esforço humano. Trabalhamos muito, mas foi com e pela graça de Deus. Foi Ele quem fez frutificar a sua obra com a ajuda das nossas mãos e nos deu forças, alegria e entusiasmo para seguir trabalhando pelo projeto à distância e durante as aulas da faculdade.
A experiência de coroar Maria no dia 18 de julho, no Santuário Original, através dos voluntários, foi —para mim— o fundamento do encontro. Confiamos tudo a Ela, entregando toda responsabilidade em Suas mãos: “A partir de agora, mais do que nunca, o IGNIS é teu! É responsabilidade tua!”. E Ela foi fiel. Voltei a essa experiencia de confiança quando na ansiedade das vésperas do encontro, fomos ao Santuário de Sião para uma adoração e para renovar nossa confiança em Cristo e em Maria, os centros do nosso encontro e voltei a sentir paz e tranquilidade que precisava.
Um pouco do encontro:
Talvez o mais valioso de um testemunho seja o relato de uma experiencia pessoal. Mas compartilho também um pouco do que aconteceu nesses dias, recomendando que visitem as redes sociais do IGNIS para acompanhar melhor o espírito desses momentos.
O IGNIS 2025 nasceu como um convite da direção geral dos Padres de Schoenstatt, organizado pelos seminaristas e protagonizado por mais de 300 jovens e 25 assessores de 18 países — de 25 a 27 de julho em Schoenstatt, e de 28 de julho a 3 de agosto em Roma.
Em Schoenstatt, a mística do encontro girava em torno do lema “Enciende tu misión / Ignite your mission”, marcado pela experiência comum das missões nos diversos países onde a juventude masculina está presente, e também pelo impulso que o avanço da causa de João Luiz Pozzobon – o grande missionário de Schoenstatt — trouxe neste tempo, com seu reconhecimento como venerável por parte da Igreja.
Cada dia do IGNIS buscava proporcionar uma experiência viva de encontro com as graças do Santuário Original, expressas em três frases principais, formuladas nos principais idiomas do encontro (inglês, português e espanhol), que ajudavam a interiorizar a mensagem do lema.
Na sexta-feira, dia de chegada dos jovens e início do encontro, sob o lema “We are IGNIS”, a juventude foi acolhida por Maria em seu Santuário com suas delegações nacionais. Ali, experimentaram que Schoenstatt é maior do que o ramo de cada um, que todos somos IGNIS e que estávamos de volta ao lugar da fundação, onde, junto com o Padre Kentenich, jovens como os que ali estavam selaram a primeira Aliança de Amor e acenderam o primeiro fogo: o IGNIS.
O segundo dia, sob o título “Vive no fogo”, acentuava a graça da transformação interior, destacando experiências concretas de Schoenstatt que dão um novo sentido de plenitude à vida. Tivemos uma MaterTalk, com o pe. Pedro Brás, que partilhou seu testemunho pessoal da sua relação com o irmão de curso Christian Abud, sobre a autenticidade dos vínculos como lugar onde Deus vive em nossos corações e nos transforma.
Também foi o dia de diferentes workshops temáticos, onde cada jovem podia escolher uma experiência conforme seus interesses e idioma, para aprofundar em um tema que toca e nos transforma desde a originalidade dos nossos interesses e inquietações. Os temas iam desde “Visita guiada pelos lugares históricos de Schoenstatt”, “Composição musical com autores do Colégio Mayor” até “Exercícios espirituais schoenstattianos”.
A tarde foi marcada pelo apaixonante Mundial de Futebol, atividade muito aguardada e desejada pela juventude. A final não poderia ser mais clássica: Brasil x Argentina. A Canarinha levou a melhor, tornando-se o primeiro campeão mundial do IGNIS, somando-se ao pódio dos campeões anteriores: Portugal (campeão da Europa do IGNIS 2023) e Paraguai (campeão da América do IGNIS 2023).
À noite, depois da paixão futebolística, todos peregrinamos ao Monte Sião para contemplar o pôr do sol, comer sanduíches caseiros de pulled pork, participar da Missa com a comunidade dos Padres de Schoenstatt, e terminar o dia em adoração a Jesus, o verdadeiro fogo que dá sentido a todo o encontro. Adorá-lo no cume do monte, com o horizonte ao fundo, foi um chamado a deixar-se transformar pelo encontro com Cristo e levar essa chama para os novos horizontes das nossas vidas.
O terceiro e último dia em Schoenstatt, com o lema “Misioneros de Esperanza”, pretendia entusiasmar os jovens a levar a riqueza desses dias ao Jubileu de Jovens em Roma e aos seus respectivos países, como um verdadeiro envio apostólico. Começamos com testemunhos de missão de jovens de vários países, seguidos pela “Expo-Missão”, na qual cada país apresentou seu ramo, suas missões e sua cultura — com jogos e doces típicos. Simultaneamente acontecia um Kahoot com perguntas sobre as culturas e identidades nacionais da juventude internacional.
Terminamos a manhã com uma peregrinação ao Monte Schoenstatt, junto ao túmulo do nosso Pai e Fundador. Inspirados em seu carisma e espírito de “Dilexit Ecclesiam”, queríamos ser enviados a Roma e ao mundo com o fogo do IGNIS. Ali, na Igreja da Adoração, fomos recebidos pelo pe. Ángel Strada, padre argentino que trabalhou por anos como postulador da causa de beatificação do pe. Kentenich, e que teve a graça de conhecê-lo pessoalmente. Ele nos partilhou a riqueza do seu encontro e vínculo pessoal com o pe. Kentenich e permitiu-nos entrar em contato com a última geração que ainda conheceu o pe. Kentenich em vida.
Recebemos então o envio do pe. Alexandre, presidente da Presidência Internacional de Schoenstatt, que nos enviou a levar o fogo do IGNIS ao mundo inteiro, inspirados pelo logo do encontro: um jovem que alça Maria aos céus! Esse é o fogo na nossa esperança que queremos levar a todos. Como símbolo disso, cada jovem foi enviado com uma peregrina feita especificamente para o IGNIS, que continha um pequeno fragmento da antiga estrutura da madeira do Santuário Original.
À tarde, depois de um encontro com líderes de ramos, delegados e assessores, convocados para refletir sobre o próximo IGNIS e para partilhar ecos sobre o encontro e sobre a iniciativa missionária que se destacou tanto durante esses dias, peregrinamos à Igreja dos Peregrinos e ao Santuário Original para iniciar o RISE — o encontro da juventude masculina e feminina de Schoenstatt. Juntos, celebramos a Missa, renovamos a Aliança de Amor e vivemos uma noite cultural com danças típicas e canções importantes para o movimento de cada país.
No dia seguinte, partimos para Roma, para viver o Jubileu dos Jovens com toda a Igreja. Nosso centro de apoio era a paróquia Santi Patroni d’Italia, administrada pelos Padres de Schoenstatt. Ali oferecíamos café da manhã, acolhida aos peregrinos, um centro de espiritualidade com orações, workshops e uma exposição que convidava o visitante a “santuarizar seu coração”.
Esse projeto, “Santuariza il tuo cuore”, nasceu de uma frase do Papa Francisco em vídeo à Família de Schoenstatt, na ocasião da bênção do Santuário de Monterrey. O Papa dizia que é lindo construir um santuário como templo, mas mais importante é que nosso coração seja um verdadeiro santuário. Inspirados por isso, a equipe de espiritualidade preparou um percurso que começava com a Porta de Belém — uma entrada estreita, que nos fazia abaixar para entrar no coração de Jesus, revelado por meio de nomes, rostos, testemunhos de santos e uma instalação artística com corações de cerâmica, feitos pelo pe. Domingo Errazuriz. O percurso era guiado por uma linha no chão, representando um eletrocardiograma, simulando os batimentos do coração de Jesus, e que conduzia a uma imagem de Cristo com o coração exposto, pintada pelo pe. Facundo Bernabei. Ali, os peregrinos podiam tocá-Lo e escrever os nomes que traziam em seu próprio coração.
O percurso seguia, ao lado oposto da igreja, com um santuário paroquial, construído em ocasião do jubileu de jovens, que pretendia oferecer uma verdadeira experiencia de Santuário de Schoenstatt. Maria, ali na paróquia, também nos acompanhava e enviava em missão. Por isso, ao sair do santuário, o peregrino se encontrava com o testemunho de João Luiz Pozzobon, e podia confeccionar uma mini Peregrina, levando-a como presente para alguém que encontrasse durante o Jubileu.
Além disso, vivemos momentos muito especiais: o concerto “Un solo cuore”, organizado pelos padres e seminaristas músicos da nossa comunidade e da comunidade Shalom. O concerto aconteceu no dia 30 de julho, a menos de 200 metros do Vaticano, à sombra de São Pedro, e foi uma oportunidade de evangelizar, de partilhar o carisma de Schoenstatt e da Shalom com todos os peregrinos e turistas que ali passavam, além de celebrar a união entre os carismas. No dia 31 de julho, todos os schoenstattianos fomos convidados a participar de uma adoração cantada em nossa paróquia, onde o centro da vivência foi o encontro pessoal com Cristo Eucarístico e a oportunidade de receber o sacramento da reconciliação. Durante a adoração, os jovens foram convidados a ir diante de Jesus e escrever os nomes das pessoas que traziam no seu coração, para deixá-los inscritos na tábua que representava o coração de Jesus (anteriormente mencionada no percurso do coração, do centro de espiritualidade). O encontro terminou com fogos de artifício e velas de faísca para todos os jovens, que puderam consagrar-se a Maria como sinal de luz e esperança no mundo — e, juntos, entoar o hino de Franz Reinisch. No dia 1.º de agosto, fomos todos juntos a Assis, celebrar as vésperas do Perdão de Assis e embeber-nos um pouco no carisma de São Francisco. Nos dias 2 e 3, tivemos a oportunidade de ir à Tor Vergata para a vigília e a missa final com o Papa Leão XIV, onde muitos tiveram o privilégio de vê-lo de muito perto.
Olhando para trás, qualquer tentativa de apenas descrever o encontro é bastante injusta e limitada, comparada com a riqueza da experiência desses dias. Por isso, vale a pena ver os vídeos e as fotos publicados no Instagram do IGNIS @Ignis_international e perguntar a algum dos jovens que participaram dessa experiência, para escutar o testemunho deles — que pode ser muito inspirador, como o relato que expus no começo dessas linhas.
O IGNIS não foi apenas um evento de três dias na Alemanha e sete dias na Itália. Foi algo muito maior: a oportunidade para que Maria acendesse o fogo de Cristo no coração de cada jovem, fazendo-o arder de esperança, como rezávamos no nosso Capital de Graças:
“Dá-nos, Mater, o fogo de Cristo para que o mundo arda de Esperança.” Amém.
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